
Vavá Schön-Paulino*
“Por que vocês fazem teatro?” Esta foi a primeira pergunta que Antunes Filho fez aos participantes da oficina que ele ministrou no Teatro de Santa Izabel, nos dias 25, 26 e 28 de maio próximo passado. Após algumas respostas de alguns dos 25 participantes da oficina ele vaticina: devemos fazer teatro para tornarmo-nos pessoas melhores, devemos fazer teatro para o grande dramaturgo / demiurgo.
Uma tarde inteira de diálogo, “entrevista” informal, perguntas para as respostas afiadas sob a forma de parábolas! Mais uma comprovação de que o pulo do gato não se ensina. O Mestre nos recomenda: o autoconhecimento, a transcendência. Reafirma várias vezes nesta tarde que o ator tem que ter cultura (erudição), e recomenda a leitura de alguns autores como, por exemplo: Campbell, Mircea Eliade, Hegel, Adorno e principalmente Alain Daniélou e seu livro ‘Shiva e Dioniso’.
Até alguns anos atrás Antunes criticava os ‘atores espanadores’, hoje ele reclama da legião de ‘contorcionistas dramáticos’ – em referência ao excesso de fisicalizações e malabarismos coreográficos presentes em várias criações contemporâneas. Devemos perseguir o inefável do teatro simbólico! Devemos dizer um não à projeção vocal e buscar a ressonância. Isto é, bem simploriamente, esquecermo-nos das consoantes e nos atermos às vogais.
Respiração é tudo e as interações eletromagnéticas é o que há! “Eu não falo quem fala é minha respiração”.
Jamais esquecer que antes do ator tem o Homem. A busca é pela plenitude espiritual. Ir de encontro ao vazio, ao nada fundamental para abrir as possibilidades poéticas do fazer porque tudo é um tremendo esforço de Ser. Filosofar o Teatro.
Em defesa do ator, seja ele dramático, cômico, trágico, afastado ou metafísico ele nos propõe exercícios: a caminhada, o funâmbulo, o mergulho e o desequilíbrio partindo do braço. Para se ter uma compreensão perfeita há que se praticar em companhia de um bom orientador. Ele próprio!
“O ator trabalha no atacado e não no varejo!” Portanto, influencie, sugestione, estimule, crie um espaço entre você e o público para ter um campo de manobra, um campo hipnótico. Proceda a uma elaboração mental “do como fazer” tudo, mantenha a cabeça limpa e acredite espiritualmente. Não esqueça que “as pessoas querem te enquadrar no dia de ontem para sempre”. Sigamos, então, o conselho de Qorpo-Santo; hoje seja um, amanhã seja outro!
Atentemos para a sintaxe visual em interação com a sintaxe textual. Um desvio muscular por si só já é uma personagem fantástica. Deixe a vida seguir seu curso e esteja prêt-à-porter. O resto é mar...
* artigo publicao no jornal Riblata, do SATED-PE, Ano VII, N° 78, Junho de 2007.
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