domingo, 16 de outubro de 2011

DEZ DIAS DE BACANTE – notas esparsas do 18ª POA em Cena


Vamos começar pelos dados mais concretos com o objetivo de desenhar o cenário e oferecer as didascálias para as falas que seguem: o Porto Alegre em Cena – Festival Internacional de Artes Cênicas acontece durante 21 dias no mês de setembro, pontuado por duas datas oficiais na história política do Brasil, proclamação da independência e revolução farroupilha. Composto por uma grade de 55 espetáculos, 18 internacionais, 27 nacionais e 13 estaduais, o festival tem uma média de 6,5 apresentações diárias além de oficinas, encontros, shows, painéis e Ponto de Encontro! Fomos convidados por Luciano Alabarse, coordenador geral do Festival, realizado pela Prefeitura de Porto Alegre através da Secretaria Municipal da Cultura.

Andava carente de sínteses poderosas. Diante do sempre glorioso e improvável devir, entreguei-me à diversidade do festival num exercício de apreciação descompromissada de qualquer pretensão que não fosse hedonista. Isto assumido; a cada dia tentei registrar minhas fruições estéticas. Algumas delas parecerão ‘hermetismos pascais’ e outras, pura tolice. Segundo o ‘realismo cínico’, é o risco que se corre quando se está motivado pelo desejo de prazer.

Como diriam os franceses, foram estas as ‘espécies de prazer’ que vivenciei:

Viúvas - performance sobre a ausência, pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (RS), tudo de bom, viagem de barco, para desembarcarmos numa ilha onde um ritual de cenas holográficas nos falam das dores e das perdas promovidas pelas ditaduras. Destaque para a atuação de Tânia Farias.

Pterodátilos, pela Produtora Pequena Central (RJ), déjà-vu, Nanine repetindo-se, direção do Felipe Hirsh para uma comédia/ópera seca no melhor estilo Gerald Thomas. Mariana Lima é ótima, os meninos, pura bolinação, MINHA PELE É MUITO CURTA, o que falta ou o que sobra? As reações da platéia? Marcadas.

A Lua vem da Ásia, por Chico Diaz (RJ), Escândalo! Texto de Campos de Carvalho, direção de Moacir Chaves e atuação de Chico Diaz. Tdb. Cartas de náufragos. Hospício surreal. Projeções. Capítulos desordenados. Chico Diaz é muito bom! Chorei. Faz tempo que um espetáculo não me comove assim. A última vez foi com Clarice Niskier em Curitiba.

A história do homem que ouve Mozart e da moça do lado que escuta o homem, pela Cia. Espaço Cênico (RJ), Só conjecturas... Fazer o que? Qual é a crise? Será que esta ganhará o título de pior? Ah, a pele... Toda riscada de caneta... Existem coisas que não saem da nossa pele!

Blackbird, dramaturgia escocesas por criadores uruguaios. Teatrão com pedofilia como tema. Atores bons, texto ótimo. Problemas de direção = continuidade, adaptação. Los uruguayos... nuestros hermanos!

Ninguém falou que seria fácil, uma realização Foguetes Maravilha (RJ), outro déjà-vu, Asdrúbal trouxe o trombone fazia muito melhor... o que é o teatro carioca? Bom mesmo o espumante bebido durante todo o espetáculo e os beijos na boca como se estivéssemos na Praça Virgínia Guerra em Arcoverde em 2001.

Une flûte enchantée, livre adaptação de Peter Brook, Franck Krawczyk e Marie-Hélène Estienne para a ópera de Wolfgang Amadeus Mozart (Die Zauberflöte), (França), Operisticamente lipoaspirada! Uma hora e trinta e cinco minutos de encantamento com Peter Brook e seu EMPTY SPACE. Luzes, bambos e poesia.

Bethânia e as palavras, Direção, repertório, roteiro e pesquisa de Maria Bethânia. Ela chama de leitura. Eu digo que vi uma conferência poética, um show lítero-musical, uma performance, ou simplesmente: coisas que só Bethânia faria. Diva, atriz, cantora. Ela é puro êxtase!

Médée, Diretor francês Jean-Louis Martinelli com atores africanos de Burkina Faso. O mito de Medeia dentro da dimensão trágica do continente africano pelo olhar colonizador.

Após a exposição destas sínteses subjetivamente microscópicas, concluímos instintivamente que devemos nos mover. Sempre. Movam-se e vivam! Esta é a ordem tragicômica do universo e suas leis básicas. Pela ética do hedonismo. Pelo RELIGARE a Dioniso. Ir à luta é fácil. Respeitar o tempo e a vontade dos outros é que será o desafio para todos os Prometeus. Coisas que só o teatro nos ensina.

Vavá Schön-Paulino, 51, é ator, diretor, poeta, performer, arte-educador, Vice-presidente do SATED-PE e Diretor do Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas Apolo-Hermilo.

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