terça-feira, 24 de julho de 2007

SÉRIE DE ARTIGOS - I

SORTILÉGIOS
(recomendações est’éticas para atores)
Vavá Schön-Paulino*

Antes de mais nada (a priori): a vida produz formas em movimento permanente de construção e desconstrução. A forma humana é marcada pelo amor e pelas decepções, que são as causas dos sofrimentos e frustrações derivados da dificuldade em enfrentar o fato básico da vida, isto é, tudo aquilo que nos cerca é impermanente e transitório, “todas as coisas surgem e vão embora”.
Devemos sempre lembrar que a arte trabalha com a percepção: e o artista é aquele que se presta a revelar as íntimas imbricações entre o real e o imaginário. E esta revelação requer humildade e coragem. Precisamos partir do princípio básico de que toda criação é, na sua essência, inocência. Inocente como a espontaneidade da infância.
Depois de tudo (a posteriori): a ambigüidade, a efemeridade, a ambivalência, o paradoxo, o simulacro, todos estes substantivos designam a substância da forma TEATRO.
Utilizando as palavras do Prof. Milton Santos, podemos afirmar: “o teatro constitui, vamos dizer assim, por destino, uma exposição de idéias universais. (...) É daí que vem, consequentemente, a sua postura crítica. E foi assim durante séculos, a busca de coisas que são próprias do homem, essa forma de aperfeiçoamento. O Teatro é ético, em suma.” E não apenas artístico ou estético.
Para ressaltar o já vivido, experienciado, necessitamos entender que o nosso melhor gesto é baseado no futuro. Do presente, entendendo-o enquanto conjunto de tempo-espaço da contemporaneidade, precisamos compreender a mútua implicação entre conformismo e autoritarismo, como também, a acessibilidade e a fragilidade psicológicas do homem moderno – submetido a critérios instrumentais, à centralização burocrática e, muitas vezes, política, características do capitalismo de organização. E isto porque, em sua diversidade, muitos desses sistemas intelectuais se ressentem dos mesmos vícios ideológicos: a tendência formalizante, a vocação autoritária, o delírio da auto-suficiência diante do acontecer histórico.
Aqui e agora (hic et nunc): quando hás de, enfim, começar a viver virtuosamente? A adotar uma maneira de comportar-se? Antes dos métodos de interpretação, um método para a VIDAÇÃO!
Esta orientação deverá sempre nos remeter ao sentido trágico da responsabilidade, isto é: a ação humana posta em questão! Aqui, nos referimos a Eugênio Barba e o seu conceito corpo-em-vida. Poder, saber e querer são os três temas em que se insere nossa questão.

* Artigo publicado no Jornal RIBALTA, do SATED-PE, Ano I, n° 1, junho de 2000.

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