domingo, 23 de setembro de 2012

PEDAGOGIA eXtemporânea

A datação do adjetivo ‘extemporâneo’ é de 1713. Pode e deve ser usado no sentido do que ocorre ou se manifesta fora ou além do tempo apropriado ou desejável e/ou, que não é próprio ou característico do tempo ou do momento em que ocorre. Tem como sinônimos e variantes: desazado, inoportuno, intempestivo e lampo.

Na contemporaneidade, início do século XXI, vivemos a sociedade da informação. É cada dia mais urgente eliminar distâncias: entre os que sabem e os que não sabem; entre os que podem e os que não podem. Cada um está só consigo mesmo. Vivemos o tempo das polêmicas, das controvérsias, das contradições. Necessitamos de um pensamento novo que ajude a imaginar outras lógicas, outros modelos, outras formas de organização. Sem esquecer que todo novo tem um pé na tradição!

Em 1601, Shakespeare escreveu o seu Hamlet. Neste texto fenomenal encontramos duas pérolas: uma aula de interpretação e uma das máximas filosóficas da dúvida permanente: TO BE OR NOT TO BE? Que é sempre traduzida como ‘ser ou não ser’ mas, que pode também ser lida como ‘estar ou não estar’. Intervenções cosméticas talvez nos salvem a face! Não nos deixemos distrair. Shakespeare adorava duplo sentido! It’s not a joke! (Não é uma piada!).

Buscamos nossa novidade no início dos séculos XVIII e XX respectivamente. O teatro eXtemporâneo busca o exercício da antropagogia – pedagogia social que trata da educação além da escola e do círculo familiar. Não queremos separar o que está, inevitavelmente, ligado. Baseamo-nos na interatividade, na personalização e no desenvolvimento de uma capacidade autônoma para aprender e para pensar.

Não nos devemos baixar a cabeça aos modismos instrumentais e devemos sempre manter uma grande atenção aos conhecimentos e às disciplinas que formam nossos atores. É importante que saibamos separar o que é essencial e obrigatório para todos os atores daquilo que deve ser opcional e responder a diferentes necessidades de diferentes atores. Na maioria das escolas os alunos saem, cada vez mais, sem um mínimo de conhecimentos e cultura, sem o domínio das regras básicas da comunicação e da ciência.

Impõe-se, hoje, a ideia de uma educação permanente. A formação de atores estabelece-se num continuum entre a formação inicial e a formação contínua numa perspectiva de desenvolvimento profissional ao longo da carreira. No intempestivo tempo-espaço da autoformação, a reflexão de cada um sobre o seu trabalho é absolutamente essencial!  E esta reflexão tem de ser continuada por um diálogo com os colegas, no teatro e noutros espaços de trabalho. Assim agindo, encontraremos a contenção necessária entre transbordamento e retraimento para atingirmos a transposição.

Vavá Schön-Paulino.
Recife, 23 de setembro de 2012.

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